Mário Soares foi co-fundador do Partido Socialista, em 1973. Iniciou o seu percurso com a oposição ao Estado Novo, o que o levou a ser deportado, pelo regime salazarista, para São Tomé e Príncipe, onde viveu oito meses, durante o governo de Marcello Caetano. Sempre se afirmou como um líder partidário no campo democrático. A trajectória política de Soares passou pela defesa de uma democracia parlamentar (um processo de transmissão da ditadura para a democracia que estava longe de ser consensual); a defesa da descolonização; a entrada de Portugal no processo de construção político na adesão às Comunidades Europeias. Foi por três vezes primeiro-ministro e cumpriu dois mandatos como Presidente da República, entre 1986 e 1996.
Em 1999, Mário Soares, já com um percurso político inigualável, volta a candidatar-se ao Parlamento Europeu. Naquela altura, o expectável era que se reformasse politicamente, mas não. Preferiu manter-se fiel à sua forma de ser, em vez de escrever as suas memórias, ou de usufruir do prazer do descanso, continuou a sua luta. À época, muitos jornalistas lhe perguntavam: «Mas o que é que o leva, depois de ter sido chamado ‘pai da democracia’, a entrar num combate político?». Como resposta, Mário Soares dizia que «alguém que tenha vivido toda a sua vida com luta, acreditando nas causas, não se esconde e está preparado para o confronto». Mário Soares continuou a ter um papel interventivo na sociedade, quanto mais não fosse, nunca se escusava de comentar os recentes acontecimentos políticos, apesar da sua idade avançada. E fazia-o tanto através de artigos que ia escrevendo, como intervenções em eventos que participava. Foi um dos políticos mais populares que alguma vez tivemos, em Portugal. «Soares é fixe» é o slogan que a história não vai esquecer.