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Mónica Ferro

«Independentemente da política, servi o país e as causas em que acredito»

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No seu percurso profissional, Mónica Ferro foi professora de Relações Internacionais e investigadora, passou pela política, foi Secretária de Estado da Defesa, foi Deputada e assume-se como defensora dos direitos humanos. Enquanto Vice-Presidente do Fórum Europeu de Parlamentares para a População e Desenvolvimento, teve oportunidade de conhecer o local onde trabalha há quase dois anos, como diretora da Representação Regional, em Genebra, do Fundo das Nações Unidas de Apoio à População.

Como surgiu a vontade de trabalhar com o Fundo das Nações Unidas para a População?
Durante o tempo em que estive no parlamento tive algo que foi uma constante: a minha vinculação ao grupo parlamentar sobre populações e desenvolvimento. Era um grupo de deputados de todos os partidos e trabalhávamos na área da igualdade, saúde sexual e reprodutiva e educação para a cidadania. Este grupo trabalhava com o Fundo das Nações Unidas para a População e, assim, acompanhei e participei em dezenas de iniciativas e percebi que o trabalho que realizavam era um catalisador de mudança na vida das mulheres e raparigas.

Foi assim que teve conhecimento de que estava aberto um concurso?
Conhecia muito bem a minha antecessora, Alanna Armitage. Ela tinha vindo várias vezes a Portugal e eu, enquanto deputada, fui a Genebra discutir e apresentar alguns temas que faziam parte do cerne do Fundo. Quando ela saiu, a organização abriu o concurso a candidatos externos e eu pensei «porque não?». Podia acontecer não ficar, mas pelo menos tentava. Tudo começou a 24 de outubro de 2016 e recebi a carta com a oferta do lugar em janeiro de 2017.
«Qualquer organização internacional deve caminhar para a extinção» 
Foi uma candidatura individual ou houve algum peso político?
Foi uma candidatura individual, mas tive apoio do governo da época e é sempre preferível ter apoio do que oposição, isto porque no meu lugar, ainda que mal definido, sou a representante de Portugal no Fundo das Nações Unidas para a População em Genebra. Depois o governo mudou e senti o mesmo apoio.

Acredita que é um lugar sem cor política?
Sim. Não tem cor política. Eu sirvo as Nações Unidas e, pelo facto de ter trabalhado num determinado partido e ter sido deputada e secretária de estado, por esse partido, ter sido endossada por um governo e apoiada por outro, mostra que não vivi a experiência política como uma clubite. Sempre trabalhei com todos os partidos e, independentemente da política, servi o país e as causas em que acredito. Havia pessoas que pensavam que eu era independente e isso era engraçado porque tem que ver com o estereótipo assinalado a uma mulher de centro direita.

O que é uma mulher de centro direita em Portugal?
Eu acredito numa sociedade em que os valores são mais importantes do que o pragmatismo. Sempre fui a favor de uma sociedade em que o peso do estado numa economia fosse menor, mas garantindo o bem-estar social com subsídio de desemprego, não como caridade, mas como um direito; garantido o serviço nacional de saúde e escola pública de qualidade. E percebi que o sítio onde a liberdade se encontrava com a responsabilidade era o PSD.

Qual o seu papel como agente transformador?
Este é um sítio onde sei que posso dar um grande contributo porque me identifico com a causa e porque há um imenso potencial para transformar a consciência social e mentalidades. Tudo o que fazemos tem uma abordagem baseada nos direitos humanos e igualdade de género. Digo muitas vezes que qualquer organização internacional deve caminhar para a extinção. O ideal era que daqui a 50 anos não precisássemos do Fundo das Nações Unidas para a População para nada, a não ser para uma parte muito importante do nosso trabalho, estatísticas e dados.
«A empatia é o valor humano mais em falta hoje em dia»
Gerir a família à distância foi uma nova realidade. Como conseguiu?
Com muitas viagens a Portugal e com o WhatsApp. Aconteceu algumas vezes uma das minhas filhas estar numa loja a escolher roupa e mandar-me a foto ou falar comigo no momento, como se estivesse à frente dela, isto fazia desaparecer a ausência. Outras vezes, ao jantar, colocavam o telemóvel na mesa com a câmara ligada e parecia que estávamos todos juntos a conversar. Tudo isto atenuou a distância. Agora já estamos todos em Genebra.

A sua infância foi determinante em si?
Tive uma infância feliz, tenho uma irmã mais nova, estou rodeada de mulheres. A minha mãe dizia que quando crescesse deixaria de me indignar com as injustiças do mundo, mas não aconteceu, ela enganou-se. A minha infância foi também um abrir de possibilidades, venho de uma família muito modesta. A família do meu pai era de agricultores e da minha mãe, pescadores, tinham vidas duras e muito sofridas.

O que é que faz mais falta às pessoas e à sociedade em geral?
A empatia, acho que é o valor humano mais em falta hoje em dia. Ver o mundo pelos olhos de outras pessoas, tentar perceber porque agem e reagem daquela maneira, que nos parece às vezes estranha. Perceber o que é que motiva o outro, é algo como compreender em vez de julgar.

Que valores passa às suas filhas?
Tenho duas raparigas, a Carlota com 13 e a Caetana com 8 anos. Elas acreditam que podem ser tudo o que quiserem e sabem que a empatia é muito importante. Peço-lhes constantemente que se coloquem no lugar das outras pessoas, quando fazem uma crítica. E também o valor do trabalho e da generosidade. Acho que são estes valores que definem a nossa vida.

Cristina Freire
T. Cristina Freire
F. Nuno Almendra
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