Como
surgiu a vontade de trabalhar com o Fundo das Nações Unidas para a População?
Durante o tempo em que estive no parlamento tive
algo que foi uma constante: a minha vinculação ao grupo parlamentar sobre
populações e desenvolvimento. Era um grupo de deputados de todos os partidos e
trabalhávamos na área da igualdade, saúde sexual e reprodutiva e educação para
a cidadania. Este grupo trabalhava com o Fundo das Nações Unidas para a População
e, assim, acompanhei e participei em dezenas de iniciativas e percebi que o
trabalho que realizavam era um catalisador de mudança na vida das mulheres e
raparigas.
Foi assim
que teve conhecimento de que estava aberto um concurso?
Conhecia muito bem a minha antecessora, Alanna
Armitage. Ela tinha vindo várias vezes a Portugal e eu, enquanto deputada, fui
a Genebra discutir e apresentar alguns temas que faziam parte do cerne do
Fundo. Quando ela saiu, a organização abriu o concurso a candidatos externos e
eu pensei «porque não?». Podia acontecer não ficar, mas pelo menos tentava.
Tudo começou a 24 de outubro de 2016 e recebi a carta com a oferta do lugar em janeiro
de 2017.
«Qualquer organização internacional deve
caminhar para a extinção»
Foi uma
candidatura individual ou houve algum peso político?
Foi uma candidatura individual, mas tive apoio
do governo da época e é sempre preferível ter apoio do que oposição, isto
porque no meu lugar, ainda que mal definido, sou a representante de Portugal no
Fundo das Nações Unidas para a População em Genebra. Depois o governo mudou e
senti o mesmo apoio.
Acredita
que é um lugar sem cor política?
Sim. Não tem cor política. Eu sirvo as Nações
Unidas e, pelo facto de ter trabalhado num determinado partido e ter sido
deputada e secretária de estado, por esse partido, ter sido endossada por um
governo e apoiada por outro, mostra que não vivi a experiência política como
uma clubite. Sempre trabalhei com todos os partidos e, independentemente da
política, servi o país e as causas em que acredito. Havia pessoas que pensavam
que eu era independente e isso era engraçado porque tem que ver com o
estereótipo assinalado a uma mulher de centro direita.