De um Modelo Condicionado

Depois de um choque do lado da oferta na pandemia, surgiu um outro-por sinal, também do lado da oferta –, com a Guerra da Ucrânia. 

Matérias-primas e insumos intermédios escasseiam, cadeias de valor são postas em causa, a inflação atinge valores que já não conhecíamos há trinta anos e ressurgiu uma componente muito forte de incerteza. 

Neste quadro, não se apresenta possível implementar um modelo de política económica estável, assente em pressupostos inquestionáveis, que nos permita influenciar positivamente a componente psicológica do investimento. 

É sim possível dizer-se que se vai procurar, uma vez mais, conciliar a contenção do défice orçamental com alguns estímulos ao rendimento disponível das famílias, atualizando-se, por exemplo, os escalões do IRS. 

É, também, possível afirmar-se que se vai procurar introduzir novos mecanismos de incentivo ao investimento nas empresas, baixando-se marginalmente, em certas situações, o IRC. 

Será viável criar-se a expectativa de alguma dinamização do investimento em infraestruturas, na saúde e na economia digital, recorrendo-se ao Plano de Recuperação e Resiliência. 

Mas, está-se longe de poder garantir uma elevada taxa de crescimento do PIB, um aumento do salário médio, em termos reais, ou até mesmo o acompanhamento da taxa de inflação pelos salários praticados no mercado de trabalho nacional. 

E tudo isto se afigura evidente por uma simples razão: não sabemos quanto tempo vai durar o conflito na Ucrânia, nem tão pouco a intensidade que o mesmo virá a assumir, sobretudo se se virá a generalizar. 

E, em boa verdade, num contexto de generalização do conflito, os custos daí decorrentes para a economia mundial, em geral, e para a economia europeia, em particular, serão muito elevados. 

Vivemos num modelo transitório e condicionado, de acordo com o qual são necessários sacrifícios. 

Mas, sacrifícios esses que se justificam quando está em causa a Democracia e a Liberdade. 

Nem mais, nem menos…