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Fernando Jorge

Arquiteto

«Um arquiteto não tem idade, tem ideias», diz, recusando divulgar quantas primaveras tem no corpo. Mas logo a seguir acrescenta que anda há «27 anos a queimar pestanas». Fernando Jorge é assim. Um homem intemporal, que tem deixado por onde passa, e também nos lugares a que fisicamente nunca foi, muitas das suas obras. Planifica diariamente o sonho dos outros e também os seus. Um deles está mais do que concretizado: é arquiteto de alma e coração. A decisão foi tomada após o 25 de abril, quando percebeu que só desenhar não lhe bastava. Olhou a era do progresso social e casou-a com o progresso urbano e, para bem da nação e de Braga, a sua cidade, fez-se moldador do ‘vazio’ dos outros. Seduzindo-os e deixando-se seduzir para construir todo um novo mundo.

Fernando Jorge
Qual a obra que mais o marcou ao longo da sua vida profissional e porquê?
Cada obra tem o seu significado, porque é interpretativa de manifestações de vontades e sonhos de pessoas e instituições. Citarei, como exemplo, a reabilitação arquitetónica da maioria do edificado no Bom Jesus do Monte e do Sameiro, em Braga; solares, um pouco pela região do Minho, incluindo o Palácio da D. Chica e, mais atualmente, os ‘quartéis’ de Nossa Senhora da Abadia. Na vertente moderna, referiria o Hotel Meliã de Braga, o ISAVE, na Póvoa de Lanhoso e algumas moradias, das muitas que projetei.         

Antes de ser arquiteto foi professor. Mas depois de já ser arquiteto nunca deixou de ensinar. Que valores passa aos que consigo convivem diariamente?
Humildade, Seriedade e Paixão constituem-se na trilogia da perenidade. Se não tiver enquadramento nesses três aspetos fundamentais, então a arquitetura passa a estar isenta da verdade e de significado no tempo/espaço.
«Cada projeto é uma história de vida que se conta!»
Hoje em dia, que espaços privilegiam mais as pessoas dentro das suas casas?
Creio que a parte social. Os quartos deixaram de ter importância, porque simplesmente são para pernoitar, enquanto que a parte social permite uma relação próxima entre as pessoas que compõem o agregado familiar e mesmo no convívio entre amigos. Cada vez mais, existe menos tempo para o encontro, porque todos estão ocupados, durante a maior parte do dia, nas suas atividades profissionais e, muitas das vezes, o tempo para os afetos reduz-se à partilha de olhares nas tarefas. A cozinha deixou ter a conotação que tinha e passou a ser um espaço integrado na sala, justamente para ‘aproximar’ as pessoas. A casa, atualmente, passou a ser mais humanizada, mais aconchegada, ao contrário do passado recente, em que era entendida como autoritária e silenciosa.    

Fazer um projeto atualmente é mais exigente do que há uns anos?
O que difere no tempo cronológico não são os projetos, mas antes o grau de exigência das pessoas, porque estão muito mais informadas e conscientes daquilo que  desejam. Pessoalmente, nunca tive problemas com os clientes, porque procurei sempre superar as expetativas ao nível do entendimento do projeto. Nunca avancei com um projeto sem que o cliente entendesse bem a escala, funcionalidade e proporção dos espaços propostos, isto é, procurei sempre encaminhá-los a uma determinada dimensão, para que, a partir desse momento, pudessem interpretar o projeto como um estímulo para uma vivência plena. Cada projeto é uma história de vida que se conta! Porque cada vida é diferente… logo, são diferentes os projetos…    

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