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Reforçar a cooperação com África e América Latina

José Manuel Fernandes

Eurodeputado, professor e político português

José Manuel Fernandes
A União Europeia deve reforçar – sem paternalismos – a cooperação com a América Latina e África. Há um interesse mútuo e um resultado que tem de ser positivo e vantajoso para todas as partes. É urgente concretizar uma estratégia ganhadora e uma cooperação sólida.
A UE, face à sua riqueza, tem obrigações adicionais que tem cumprido com solidariedade. É o maior doador mundial e quem mais contribui para a ajuda ao desenvolvimento. Este apoio não tem a merecida perceção e visibilidade. Há várias infraestruturas, nomeadamente em África, financiadas pela UE, mas executadas por empresas chinesas. Nestes casos, a fama e o proveito ficam com a China.
Portugal tem especiais obrigações de natureza histórica e cultural com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e com o Brasil. A língua portuguesa é uma mais-valia que não está explorada por Portugal e pela UE. Neste sentido, Portugal e Espanha – a Península Ibérica –, em vez de concorrentes, deveriam ser aliados, pois são os melhores interlocutores da UE para a África e para a América Latina. Portugal exerceu a presidência portuguesa rotativa da UE no primeiro semestre de 2021. Infelizmente, não deu a devida atenção a África e ao Brasil. Espanha assumirá a presidência da UE no segundo semestre deste ano e há a expectativa de que impulsione esta cooperação, nomeadamente com a América Latina. 
Para ter a tão desejada autonomia estratégica,  a EU necessita de matérias-primas, existentes em abundância em África e na América Latina. Esta evidência nem sempre é considerada pelos governantes europeus. O acordo Mercosul demorou 20 anos a ser negociado, mas ainda não está em vigor! A UE e o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) representam quase 25% do PIB mundial e um mercado de 750 milhões de pessoas. 
Na UE, há alguns Estados-Membros que, à boleia do desmatamento da Amazónia, estão a bloquear o acordo. Na realidade, as verdadeiras razões são meramente protecionistas e estão relacionadas com o medo da exportação de uma ínfima quantidade de produtos agrícolas oriundos dos países do Mercosul. 
Neste acordo, a sustentabilidade, o combate às alterações climáticas, a defesa dos direitos humanos e dos direitos sociais são elementos estruturantes. É essencial partilharmos estes valores e estes objetivos e isso não implica o seguimento de um mesmo caminho ou prioridades, pois as realidades e as circunstâncias são diferentes. Tal como afirmou José Ortega y Gasset: «Eu sou eu e a minha circunstância, e, se não a salvo a ela, não me salvo a mim». Por isso, é essencial perceber-se o «outro», respeitar a sua realidade e as suas circunstâncias.

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