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Sara Marote
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José Manuel Fernandes
A Cidade do Futuro: Sustentabilidade e Aproveitamento Inteligente de Recursos
Miguel Lemos
PCA das Águas de Gaia, EM, S.A.
São
cada vez mais os fóruns de debate sobre as cidades inteligentes, num conceito
conhecido por «SmartCities». Eu prefiro abordar o tema como a «Cidade do Futuro»,
não como parte de um guião de um filme de ficção científica, mas sim como uma
tentativa de efetuar um exercício de prospetiva para a gestão do espaço urbano.
Na
visão da cidade do futuro, a sustentabilidade ambiental emerge como um pilar
fundamental para o desenvolvimento urbano.
Entre
os maiores desafios, a gestão da água assume um papel central, tanto pela
escassez hídrica em regiões críticas, quanto pela abundância não aproveitada em
áreas com precipitações elevadas. A cidade do futuro é, portanto, aquela que transforma a gestão da água
numa prioridade estratégica, convertendo-a num recurso económico e
ambientalmente sustentável.
Se
é verdade que a questão das águas residuais para reutilização são já um tema de
destaque na reflexão sobre a gestão dos recursos hídricos do nosso território,
o reaproveitamento das águas pluviais não tem tido tanto destaque, quando é,a
meu ver, uma das soluções mais promissoras. Atualmente, em muitas cidades, a água da chuva escorre
pelas ruas, sem qualquer reaproveitamento, alimenta cheias, pressionando os
sistemas de drenagem de águas pluviais e faz, em alguns casos, aumentar os
custos do tratamento de águas residuais. Na cidade do futuro, a água da chuva é
um recurso económico! A prática atual será substituída por um sistema avançado
de captação e reutilização das águas pluviais. Edifícios e infraestruturas
urbanas estarão equipados com sistemas de recolha e armazenamento dessa água,
que poderá ser utilizada para irrigação de espaços verdes, limpeza urbana e,
porque não, para utilização para fins «menos nobres»do que o consumo humano.
Desta forma, reduz-se a pressão sobre as reservas de água potável, mas também
se reduz o custo de «desaproveitar» esta água. Este modelo não apenas ajuda a
mitigar os impactos das mudanças climáticas – que têm alterado o padrão de
chuvas –, mas também gera um recurso económico, diminuindo os custos associados
ao fornecimento de água e à gestão de inundações.
Além
do uso inteligente das águas pluviais e residuais, outras medidas ambientais
integrarão o planeamento urbano. A infraestrutura verde será uma constante, com
telhados verdes e paredes vivas que ajudarão a capturar carbono, a melhorar a
qualidade do ar e a reduzir o efeito de ilhas de calor. O tratamento de
resíduos será otimizado por meio da economia circular, em que os subprodutos do
consumo urbano serão reaproveitados para a produção de novos bens e energia.
A cidade do futuro não será apenas um
conglomerado de tecnologia e inovação; será um modelo vivo de coexistência
harmoniosa entre o ser humano e o meio ambiente. O aproveitamento inteligente da
água, nas suas múltiplas formas, será apenas uma parte dessa nova realidade,
que, sem dúvida, levará a um futuro mais equilibrado e sustentável.
À medida que as cidades do futuro se
desenham no horizonte, a gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) surge como
um dos maiores desafios e, ao mesmo tempo, uma oportunidade crucial para a
criação de um modelo de economia circular. Entre esses resíduos, os
biorresíduos– materiais orgânicos que incluem restos de alimentos, podas de
jardins e resíduos biodegradáveis – ganham destaque. Na cidade do futuro, o recolher estes
resíduos não será uma mera questão de descarte, mas sim de transformação em
novos recursos, de forma a fechar o ciclo produtivo e promovendo a sustentabilidade.
Por via de diretivas comunitárias,
transportas para o direito nacional, mas principalmente para se vislumbrar um
futuro sustentável, as cidades já estão a desenvolver soluções inteligentes para
integrar esses resíduos nos ciclos produtivos. A recolha seletiva de
biorresíduos, em particular, vai ser obrigatoriamente uma prática central na
cidade do futuro. Com sistemas eficazes de recolha e separação, os resíduos
orgânicos serão direcionados para processos de compostagem ou biodigestão, em
que poderão ser transformados em adubo de alta qualidade ou biogás – uma fonte
renovável de energia.
A compostagem em larga escala, por
exemplo, terá um papel vital na manutenção de espaços verdes urbanos e na
agricultura urbana, contribuindo para a melhoria do solo e para a produção de
alimentos localmente produzidos. Este ciclo fecha-se dentro da própria cidade,
criando um fluxo contínuo em que os resíduos orgânicos retornam à natureza sob
a forma de nutrientes para novas plantações, reduzindo a necessidade de
fertilizantes químicos.
No âmbito de uma política mais
abrangente de economia circular, a recolha de biorresíduos não será uma ação
isolada, mas parte de um plano integrado de gestão de resíduos. A cidade do
futuro abraçará a ideia de que todos os resíduos, de alguma forma, podem ser
reaproveitados, seja como matéria-prima para novos produtos, seja como fonte de
energia. Esse modelo de economia circular repensa o ciclo de vida dos produtos e
minimiza o desperdício, promovendo uma visão mais holística e sustentável de
desenvolvimento urbano.
Os habitantes dessas cidades estarão
ativamente envolvidos neste processo. O objetivo é transformar as cidades em
ecossistemas autossuficientes, onde os resíduos são continuamente reintegrados
na economia, reduzindo impactos ambientais e gerando valor em toda a cadeia.
Assim, a cidade do futuro será um
espaço onde tudo aquilo que é visto como um problema: água da chuva, resíduos
sólidos urbanos, etc., será encarado como uma oportunidade, um recurso
precioso, capaz de alimentar a economia, reduzir emissões e contribuir para uma
vida mais sustentável e em harmonia com o meio ambiente.
E
como se financia a cidade do futuro? A cidade do futuro não dependerá apenas de
fontes tradicionais de financiamento, mas sim de uma combinação de soluções
inovadoras e colaborativas e irá basear-se fortemente na economia circular, em que os resíduos
são minimizados e os materiais são reaproveitados nos ciclos produtivos, as
várias «fontes de água» são geridas e utilizadas, gerando poupanças pela
alteração de comportamentos e da forma de gestão.
O
financiamento sustentável da infraestrutura urbana moderna tornar-se-á uma
realidade viável, gerando benefícios económicos, sociais e ambientais para
todos os seus habitantes e permitindo financiar a mudança e assim, dar futuro à
cidade do futuro!