Pedro Pinto
Pedro António Costa
Pedro Rebelo de Sousa
Fundador da SRS Advogados
Fundou a SRS Advogados, uma das sociedades mais respeitadas do país, com escritórios também em Angola, Brasil, Macau, Malta, Moçambique e Singapura. Mas antes disso houve um percurso diversificado, espalhado pelo globo, em que absorveu um pouco de várias culturas e assumiu cargos de relevo, como a presidência do Banco Fonsecas & Burnay; a vice-presidência do Citibank em Nova Iorque e São Paulo e sócio e Administrador da Sociedade Internacional Simmons&Simmons. Confessa que o legado familiar lhe pesou em alguns momentos, sendo filho de Baltasar Rebelo de Sousa, mas considera isso agora ultrapassado, mesmo tendo o irmão Marcelo na Presidência da República.
Fazendo parte de uma família com visibilidade pública e cargos de responsabilidade, sentiu em alguma fase da vida que tinha de corresponder a expectativas?
Quando nasci, meu pai entrara no Governo, pelo que na infância e adolescência sentia a exigência de corresponder a certas expectativas. A nossa educação sempre foi muito clara: objetivos definidos e tentar dar o exemplo. Na fase adulta, senti muito menos isso, uma vez que passei 15 anos entre o Brasil e Nova Iorque. De regresso, em 1990, como presidente de um banco, voltei a sentir uma decorrente pressão. Na minha vida atual, volvidos mais de 25 anos de retorno à advocacia e exercício de cargos em órgãos sociais de empresas e instituições, confesso que tal se coloca menos.
Além de Portugal, já viveu em Moçambique, Brasil e Estados Unidos. O que reteve de cada país?
De Moçambique, retenho o fascínio do binómio africano da luminosidade e do tempo, tão diferentes dos europeus. Do Brasil, retenho a verdadeira dimensão e o devir do mundo lusófono. Ali percebi que o português, ao misturar-se com outros povos, criou algo único e apaixonante, um melting pot com muito menos descriminações raciais e sociais que nos Estados Unidos. De Nova Iorque, que não corresponde de todo ao que são os Estados Unidos, apreendi a centralidade do mundo capitalista e as suas consequências numa época de grande prosperidade.
Conhecendo bem a banca, considera que o setor aprendeu a lição com a última crise?
Ainda é cedo para dizer se o setor financeiro aprendeu a lição. Acho que ficou mais atento a certas realidades e correspondentemente menos vulnerável. Que os reguladores estão igualmente mais focados e equipados para prevenir e reagir a crises como a que tivemos, julgo também verdade. No entanto, não nos iludamos, há ainda fatores de risco criticos endógenos e externos.
«A nossa educação foi muito clara:objetivos definidos e tentar dar o exemplo»
Quais são os maiores desafios da advocacia na atualidade?
A identidade da profissão nas vertentes essenciais, como a do estatuto, incluindo os atos próprios, o sigilo, a publicidade, a tutela dos direitos e o acesso e funcionamento da justiça. Com relação à advocacia societária virada para o mundo empresarial, temos desafios como a especialização e a internacionalização. A pluridisciplinaridade e a sua compatibilização com critérios de gestão de risco e conflitos de interesse é outro tema. A acrescer, sem dúvida, o desafio maior de lidar com a advocacia na era digital.
A sua SRS Advogados já ultrapassou os 25 anos. O que lhe falta fazer nesta área?
A realidade é dinâmica. Temos que olhar para o futuro com os desafios que decorrem dos mercados em que operamos. O contexto que a inteligência artificial aplicada está a criar, aliada a novas tecnologias, impõem à SRS repensar o modelo de atividade. No modelo atual sendo o futuro cheio de variáveis dificilmente previsiveis é fundamental olhar sempre para o interior das instituições e confirmarse que a sedimentação da respetiva cultura impõem ter colaboradores que são adaptáveis mas autoconfiantes garantindo a solidez dos que acreditam no projeto e nas suas capacidades. Isso é o que tentamos fazer geração após geração.